K.I.S.S. — Keep it Simple…

Ao contrário do que muitas pessoas julgam, a função do designer não é adicionar "coisas" a uma mensagem, imagem ou objecto para os melhorar. Costuma ser exactamente o contrário; reduzir elementos eliminando, compilando ou melhorando outros, até que a mensagem, imagem ou objecto que se pretende comunicar ou criar seja eficaz de forma clara e inequívoca com a quantidade mínima de elementos necessários.

Este princípio de design ou actuação oficiosamente chamado KISS, ou Keep It Simple and Short, ou na versão mas jocosa Keep It Simple… Stupid, nasceu por volta dos anos 60 com a prova da eficácia dos estudos dos psicólogos William Edmund Hick (1912-1974) e Ray Hyman (1928-). Em 1952, através dos seus trabalhos e experiências, determinaram a relação entre a quantidade de estímulos e a complexidade das escolhas. Desse trabalho nasceu a lei conhecida como Hick’s Law. A lei diz que “O tempo que leva a tomar uma decisão, aumenta com o número e complexidade das opções” e está postulada na seguinte fórmula: T = a + b · log2 (n + 1) ¹.

Estudos posteriores demonstram que a simplicidade e redução de elementos leva a considerações e resultados ainda mais surpreendentes, como provaram as experiências do psicólogo social Stephen Worchel. Numa das experiências que realizou, oferecia uma lata com biscoitos a um número de participantes numa experiência apelidada de “prova de consumo”. Cada pessoa tinha como missão tirar da lata, provar e classificar o biscoito sob diversos aspectos. Na realidade, a experiência encobria outra, relacionada com o estudo da oferta/escassez. Havia duas jarras: uma com diversos biscoitos e uma apenas com dois. Apesar dos biscoitos serem idênticos, as respostas dos participantes foram claramente influenciadas pela quantidade. A classificação do biscoito da jarra onde estes escasseavam ganhava em todos os aspectos: o biscoito daí proveniente era considerado mais saboroso, mais apetecível e mais caro. Tal como a diminuição de elementos gráficos, a escassez física também confirma a simplicidade como elemento fundamental nas nossas decisões e nas acepções que temos dos próprios elementos.

Desde que estes conhecimentos foram sintetizados, não há máquina de lavar, frigorifico, telemóvel, pad ou interface gráfico que não tenha sido escrutinado no sentido da simplificação. Cada vez mais, estes princípios, leis, fórmulas e conhecimentos científicos sociais são necessários para a criação de objectos, imagens e mensagens mais eficazes num mundo cada vez mais complexo e confuso. As suas aplicações trespassaram para outros campos como por exemplo o militar, onde a simplificação de processos e funcionamento pode fazer a diferença.

Notas

¹Esta fórmula é a versão mais simples, mas há outras mais elaboradas que permitem variações para entrar em linha de conta com outros factores. Esta lei é similar à lei de Fitts (sobre movimento humano) e tem relação com outras como por exemplo os cálculos de QI. A lei contempla ainda algumas excepções que aqui não foram consideradas.

T = tempo
a, b = constantes que terão que ser determinadas a partir de dados conhecidos
log2 = pesquisa binária (logaritmo que procura posicionar o alvo no centro de uma matriz selecionada de informação)
(n + 1) = Incerteza se há resposta e na resposta