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Leitura, percepção e legibilidade

Leitura, percepção e legibilidade

Já se questionou como lê? Aparentemente interpreta o texto letra a letra, sílaba a sílaba numa sequência ininterrupta, daí retirando a devida articulação e som das palavras. Essa presunção é facilmente desarmada quando ouvimos uma criança a aprender a ler, ainda sem o hábito e desenvoltura dos mais velhos: ao soletrar e juntar letras em sílabas, apesar de bem pronunciadas o resultado soa por vezes estranho. Mas porquê? Que fenómeno força o petiz a pronunciar as sílabas correctamente mas a acentuação mal?

Para perceber o que acontece com a percepção de leitura e a forma como acentuamos as palavras, imagine que lhe dou as duas primeiras sílabas de uma palavra, por exemplo "almo______", sabe onde deve colocar a acentuação? Tanto pode ser na 2ª sílaba se a palavra for "almoço", na 3ª sílaba se a palavra for "almofada" ou na 4ª se a palavra for "almofadado", entre outras hipóteses. Ou seja, por algum motivo lemos as sílabas subsequentes antes das iniciais, para conseguir conferir a acentuação correcta às palavras.


Letras. História, Arte e Engenho

Esta e outras questões sobre legibilidade levaram Louis Emile Javal (1839–1907), oftalmologista e investigador de óptica, a procurar respostas para a interpretação das letras, palavras e legibilidade em geral. Em 1880, com o auxílio de um espelho que usava para analisar os olhos de pessoas que liam, Emile descobriu que os nossos olhos realizam movimentos automáticos de focagem muito rápidos (que agora se sabe que podem atingir 900 graus por segundo), focando pontos de várias zonas das palavras, por um ínfimo tempo. Tais movimentos permitem construir um mapa de imagens que circundam a zona em que nos concentramos. Esse processo visual a que Javal chamou Saccades é inconsciente e automático, permite-nos identificar as sílabas posteriores, fazendo com que se pronunciem correctamente as palavras. Javal concluiu que as Saccades se davam em média a cada 10 letras, e que essa era a quantidade de letras focada a cada fixação.

No mesmo estudo, Javal demonstrou outras facetas pouco conhecidas das letras, porém de grande utilidade: a zona das letras onde se dá a fixação da vista é entre o topo e meio da letra, ou seja, a metade superior dos caracteres seja mais importante para o reconhecimento da letra.

travessões

Descobriu ainda que a legibilidade melhorava mais com as formas adequadas das letras; desenho claro e distinto, do que com as variações da letra, como por exemplo o bold.


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